BOMBEIROS PORTUGUESES EM MISSÃO AO WTC
Comandante José Ricardo Bismark - CB Albergaria-a-aVelha
Comandante Rodrigo Mira - CB Municipais de Alpiarça
O comandante dos bombeiros de Albergaria-a-Velha realça o quadro de dôr e de destruição que encontrou nos Estados Unidos, onde esteve durante quase uma semana, como voluntário, a acudir às vítimas do trágico ataque terrorista de 11 de Setembro, às duas torres do World Trade Center, respondendo ao apelo da embaixada dos Estados Unidos em Lisboa.
Na sua visão daquilo que considera um verdadeiro apocalipse, José Ricardo Bismarck diz que as imagens mostradas ao mundo pelas televisões, apesar de brutais e avassaladoras, ainda são extremamente redutoras em relação aos estragos reais.
- «É como se nos fosse dado a ver um simples campo de futebol, quando a dimensão da tragédia e dos escombros é seguramente dez vezes superior». - realça com a voz emocionada um dos poucos portugueses, que arriscou uma ida ao local do hediondo atentado. José Ricardo Bismarck partiu de Lisboa em direcção aos Estados Unidos «numa operação extremamente rápida. A mim como ao meu companheiro, o comandante dos bombeiros de Alpiarça, Rodrigo Mira, foi-nos facilitado o embarque, sem visto prévio e todas as formalidades burocráticas exigidas a quem se desloca aos EUA, isto, face à nossa condição de bombeiros socorristas e à forma como respondemos ao apelo da embaixada. Apelo que foi feito em idênticas instâncias europeias ».
O quadro mais violento que até hoje vivi como bombeiro.Face à sua especialização em socorrismo, o voluntário albergariense logo foi destacado para «uma missão dura e dolorosa. Teve em conta os meus conhecimentos nas áreas de escoramento e colapso de edifícios. Encontramos um quadro aterrador de destruição e morte, que nos deixou emocionados e espantados. Mas era necessário ajudar e enquanto estivemos nos Estados Unidos, foi esta missão que tentamos cumprir. Sem falsas modéstias, acho que cumprimos a missão que nos levou aquele local mítico que representava o orgulho americano e que está reduzido a milhares de toneladas de escombros». Quando instado a falar acerca dos corpos que encontrou e retirou no meio daquela amalgama de cimento e ferro retorcidos, o nosso interlocutor assume que «não é bom nem agradável falar disso. Bastará referir que cumpri as funções que me foram destinadas.
O respeito que senti pelas vítimas, leva-me a pedir que não entre em pormenores muito desenvolvidos sobre esse aspecto. Foi do mais violento que até hoje me foi dado a ver e já vi, infelizmente muita desgraça na minha condição de bombeiro». Entre os dias 16 21 de Setembro de Domingo a Sexta-feira, José Ricardo participou nos trabalhos de busca e salvamento. Juntamente com duas equipas americanas « uma de Nova Iorque e outra do Texas, com quem nos entendemos de forma notável e solidária. Havia dois turnos diários, e a mim coube-me o das 6 às 18, com dois intervalos para descansar e comer. Mas tão logo me era possível, retomava o trabalho. Sentia que era necessário ajudar toda aquela gente, cujo estado de espírito - e estou a referir-me não só às famílias das vítimas, mas todo o povo americano, é o que se sente em tempo de sofrimento fúnebre. Não é fácil descrever este quadro assustador de tanta brutalidade e tanta destruição, que foi o que encontrei em toda a América, ali retratada pelos que viveram e continuam a viver este drama - reforça.
Nomes portugueses nas listagensQuestionados acerca da possibilidade de outros portugueses terem seguido o seu exemplo de ajuda humanitária, José Ricardo revela que «nas listagens que pude consultar, havia nomes portugueses. Julgo que muitos luso-americanos, talvez até brasileiros, mas não falei com nenhum ».
Quanto a ter estado menos de uma semana nos Estados Unidos e quando ainda tantos corpos se encontram sob os escombros, o albergariense diz que a dada altura « os bombeiros de Nova Iorque passaram a ser os únicos intervenientes nas acções. As autoridades não deixaram de agradecer a nossa colaboração, que foi ditada por razões humanitárias, até porque entre os milhares de vítimas, estão 300 bombeiros e 80 polícias, que foram os primeiros a chegar ao World Trade Center e dos primeiros a morrer no meio daquele inferno de chamas, cimento e aço».
Por fim, quando instado a comentar a revolta americana, José Ricardo Bismarck, de novo muito cauteloso, refere que é perceptível «isso mesmo, um ambiente de revolta contra o mundo muçulmano e as forças terroristas que têm sido citadas. Mas disso, ou seja de política e dos seus efeitos no pós atentado, quase não se falou durante a missão que nos levou à América, onde, em resumo, julgo que para mim foi uma experiência positiva, e profissionalmente aprendi muito e também me senti de algum modo útil a tanta e tanta gente que sofreu e sofre duramente um drama que atravessa o mundo e que infelizmente está longe de se poder considerar encerrado aos mais diversos níveis».
Fonte: Jornal de Albergaria, 25 de Setembro de 2001
Parece que ainda foi ontem, mas foi exactamente à 10 anos. As imagens entraram-nos pelas Nossas casas, no Nosso Quartel, onde, perplexos, assistimos ao desabamento das chamadas Torres Gémeas.
Lá, tal como cá, todos os Bombeiros, disponíveis e indisponíveis, no activo, na reserva ou aposentados, acorreram ao local, na tentativa de tudo fazer, para salvar as vidas dos milhares de cidadãos, que àquela hora se encontravam no interior dos gigantescos edifícios.
Foram mais de mil, os Colegas, que envergando a farda de Soldados da Paz, lutaram durante horas para salvar muitas e muitas pessoas, até que as enormes torres colapsaram, arrastando para a morte e sepultando nos seus escombros, 2 753 cidadãos inocentes. Destes, 343 eram Bombeiros, camaradas nossos, que levaram até ao limite o lema «Vida por Vida».
Dez anos depois, evocando esta amarga e triste efeméride, convido todos os Bombeiros de Penacova, no Activo, na Reserva ou no Quadro de Honra, a uma reflexão profunda sobre a nossa própria actividade, e a guardarem, respeitosamente, um minuto de silêncio, às 12h.00, de amanhã, dia 11 de Setembro, onde quer que se encontrem.
Independentemente da religião, da política, da fé ou da crença de cada um, este era o dia para ouvir as sirenes de todo o mundo, num momento único, simbólico, de evocação da memória de todos os Bombeiros que tombam no exercício de tão nobre missão.
Quartel em Penacova, 10 de Setembro de 2011
O Comandante
António Simões