A Polícia Judiciária está a investigar as circunstâncias em que deflagrou um incêndio, ontem de madrugada, num prédio da Rua Fernandes Tomás, perto do Governo Civil, que desalojou cinco pessoas, entre elas um menino de dois anos e meio.
As chamas eclodiram cerca da 1h30, no segundo andar do prédio com os números 39 e 41, um edifício de quatro pisos, habitado por duas mulheres, a mais velha de cerca de 70 anos, viúva.
O fogo alastrou rapidamente a um prédio contíguo, o número 37, onde se encontrava um casal e o filho de dois anos e meio.
Segundo os bombeiros, os telhados dos dois edifícios desabaram em consequência das chamas. Ficou ainda danificado o edifício número 37 da Rua Joaquim António de Aguiar, com estragos na fachada, numa janela, porta e numa varanda. Este último prédio (onde já funcionou uma escola) encontrava-se desabitado.
O facto de se tratar de edifícios antigos, construídos em madeira, e com divisões pequenas, facilitou a propagação do fogo, na opinião dos bombeiros.
A elevada “carga térmica” (roupas, colchões, sofás, camas e mesas) existente nas divisões contribuiu igualmente para o alastrar rápido das chamas, sublinhou a mesma fonte.
Maria do Rosário, que reside há dois meses no primeiro andar do edifício 39 e 41 da Rua Fernandes Tomás, relatou que estava a chegar do trabalho quando ouviu a vizinha do segundo andar a dizer que tinha a televisão e a casa a arder. Acrescentou que foi ela que alertou os bombeiros e que estes depressa chegaram ao local.
«Tudo quanto eu tinha foi por água abaixo», desabafou a moradora. «A única coisa que me deram foram estas chaves (da casa)», disse, desalentada, Maria do Rosário, explicando que de nada lhe valiam porque apenas ficou com a roupa que trazia vestida.
Tememos outras situações
A mesma moradora lamentou, por outro lado, que não houvesse água nas bocas-de-incêndio. «Não havia água. Tentaram as bocas todas», contou, comentando que «se houvesse, as chamas não passavam do segundo andar».
Susana e Jorge Salgueiro são o casal que se encontrava no outro prédio com o filho. Ela está desempregada e ele é funcionário de uma empresa de segurança.
Susana Salgueiro contou-nos que já estava a dormir mas que o marido, como se encontrava acordado, ouviu “alarido”. Foi o que os salvou, uma vez que pegaram no filho e fugiram para a rua. «Só temos a roupa que trazíamos no corpo», lamentou a moradora.
Aquelas cinco pessoas ficaram temporariamente realojadas em casas de familiares mas está prevista para hoje uma reunião na Junta de Freguesia de Almedina para tratar do seu realojamento.
Carlos Pinto, tesoureiro da Junta de Freguesia de Almedina, presente no local do sinistro, confirmou que a água não tem pressão suficiente nas bocas-de-
-incêndio e que esta autarquia já dera conhecimento disso à Protecção Civil Municipal. «Esperemos que casos como estes não se repitam. Nós, Junta, tememos outras situações», admitiu, chamando também a atenção para o número insuficiente de bocas-
-de-incêndio nesta zona do centro histórico.
O fogo foi considerado dominado às 3h15 e as operações de rescaldo decorreram até às 5h40. A vigilância não foi contudo abandonada uma vez que os bombeiros continuaram ontem de manhã de prevenção no local, assim como a PSP. Os Bombeiros de Coimbra (Sapadores e Voluntários) e a corporação de Brasfemes combateram o incêndio com um total de 35 homens e 12 viaturas.
Confrontado com as queixas dos moradores da alegada falta de pressão da água nas bocas-de--incêndio, o director do Gabinete de Protecção Civil e Segurança Municipal de Coimbra disse custar-lhe a crer que isso tivesse acontecido. Serra Constantino afirmou que ainda não tinha falado sobre o assunto com os bombeiros que estiveram no local e remeteu mais esclarecimentos para hoje junto dos bombeiros. Aquele responsável defendeu, por outro lado, a necessidade de se implementar de novo a verificação do funcionamento das bocas-de-incêndio em Coimbra, dando prioridade à Alta e Baixa.
Escrito por José João Ribeiro
In: Diário de Coimbra