Em Novembro de 2010 três bombeiros salvaram a vida de Isabel Carvalho, depois desta ter sido vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico.
Actualmente em plena recuperação e com poucas mazelas do AVC, Isabel e o seu marido Vasco Carvalho quiseram agradecer publicamente o trabalho desenvolvido por uma tripulação composta por dois bombeiros profissionais e um estagiário que numa noite de Novembro decidiram bater o pé para que fosse cumprido o protocolo para a via verde AVC.
“Os bombeiros só são bons quando são precisos. Há muitas pessoas que criticam os bombeiros. Eu já fiz parte desta corporação e sei o valor que eles têm. O que aconteceu à minha mulher, no meu tempo ela teria falecido. Pelo bom serviço dos bombeiros e em especial esta equipa, posso agradecer-lhes por ter hoje aqui a minha mulher viva”, disse Vasco Carvalho, de 55 anos, ao lado da sua esposa, com 50 anos.
“O médico em Santa Maria depois de ela ter saído da sala de operações, disse-me que o bom serviço começou nos bombeiros. Pela rapidez e pelo bom trabalho que fizeram ao avaliar a gravidade da doença. Posso agradecer aos três bombeiros o excelente trabalho que fizeram. Ela está viva por causa deles. Agradeço também ao médico”, sublinhou.
Da parte dos três bombeiros, Sérgio Pinheiro, de 30 anos e com 12 anos de bombeiro, Ricardo Soares, de 26 anos e com nove anos de bombeiro, e André Sousa, de 17 anos, ainda estagiário há um ano, viram este agradecimento com naturalidade, mas lembram estão a desempenhar funções para as quais trabalham diariamente.
“Nós estamos cá, é, para fazer este trabalho. É para termos sucessos destes que todos os dias trabalhamos. Receber um obrigado e um reconhecimento público é gratificante porque reconhecem o nosso trabalho. Nós agradecemos este agradecimento porque dá-nos alento e força para continuarmos a fazer o nosso trabalho. Mas o melhor agradecimento é a senhora estar bem”, disse Ricardo Soares.
Já o socorro foi algo atribulado, assim como a burocracia, porque fica patente nesta história que uma boa passagem de dados e o conhecimento de um bom técnico faz a diferença e pode salvar vidas, e há que haver do outro lado da linha também sensibilidade e confiança em quem está no terreno.
“Foi um domingo no final de turno, perto das 23h30 e fomos alertados para um mau estar súbito. Quando chegámos à casa da vítima, ao fazermos a abordagem, reparámos que havia alteração do comportamento e do estado de consciência. Apresentava possíveis sinais de um AVC e entretanto procedemos à evacuação para a ambulância e alertámos o CODU de Coimbra. Ao passarmos os dados eles disseram que iam avisar o Hospital de Caldas da situação, mas eu informei que o Hospital de Caldas ao domingo não tem serviço de TAC, exame fundamental para este tipo de situações e também não tem especialidade de neurologia. Aquele doente não poderia ir para Caldas e teria de ser encaminhado para a via verde de AVC”, explicou Sérgio Pinheiro.
O socorrista credenciado pelo INEM explicou também que a via verde do AVC tem vários procedimentos, entre os quais “ter sintomas do AVC, ter menos de 81 anos, não fazer medicação. Esta senhora encaixava-se perfeitamente bem. Perante estes factos praticamente me recusei a levar a senhora para Caldas e alertei o CODU para entrarmos no protocolo e pedi-lhes para arranjarem uma unidade para receber a senhora”, o que veio a ser feito.
A unidade de encaminhamento só lhes foi transmitida já os três bombeiros e a vítima seguiam na ambulância do INEM das Caldas a caminho da capital, onde chegaram cerca de 35 minutos depois ao Hospital de Santa Maria.
“Estamos conscientes de que salvámos a vida desta senhora”, reconheceu Ricardo Soares.
Como alerta a dupla de socorristas esclarece que “aos sinais dos primeiros sintomas com a perda de mobilidade de um braço ou de uma perna, fala enrolada, se houve desorientação, vómitos associados, dores de cabeça, devem accionar o socorro. Temos três horas para recuperar esse doente e todo o tempo conta para colocarmos os doentes na via verde de AVC. Os doentes ganham tempo, porque é-lhes feito um TAC precoce, iniciam uma trombólise precoce, a sua recuperação será melhor. Alguns deles ficam mesmo quase sem sequelas e fazem a sua vida quase normal. Esta senhora depois de estar em Santa Maria foi operada passados 15 minutos. Ela actualmente consegue fazer uma vida normal e ser autónoma. Se tivéssemos feito o caminho normal de transportar para o Hospital das Caldas, teria de ser avaliada, transferida, perdia-se entre uma hora e meia a duas horas. Quanto mais tempo demoramos, mais células estão a morrer e o resultado são mais lesões no doente”, disseram.
Carlos Barroso