«Inferno» era esta quarta-feira a palavra mais utilizada pelos habitantes de Salamonde, ainda mal refeitos do susto provocado pelo violento incêndio que chegou a «beijar» muitas casas daquela aldeia de Vieira do Minho, escreve a Lusa.
«Já vi o inferno, Deus Nosso Senhor me livre dele», desabafava Cidália Mota, 74 anos, que vive sozinha e que viu as chamas quase a entrarem-lhe pela porta dentro.
«Foi uma noite toda sem dormir. O sono é muito, mas não tenho coragem de ir para a cama. É que mal fecho os olhos a primeira coisa que vejo é aquele inferno a vir pelo monte abaixo, para cima das nossas casas», atirou Sandra Vieira, outra moradora em Salamonde.
O incêndio começou cerca das 23:00 de terça-feira e só foi dado por dominado pelas 18:00 desta quarta-feira, após um combate que envolveu mais de uma centena de bombeiros, apoiados por três dezenas de viaturas e um helicóptero pesado.
A meio da tarde, os bombeiros já não escondiam os sinais de exaustão, depois de horas a fio no terreno.
Junto a um antigo bairro da EDP, um grupo de bombeiros de Salto e Montalegre aproveitou uma sombra para «passarem pelas brasas», deitados no chão, num verdadeiro «descanso dos guerreiros».
«Estamos aqui desde as 10 da noite de ontem [terça feira], sem dormir, sem parar. Estafados», referia Sérgio Sousa, 23 anos, bombeiro há três.
Acabado de completar o curso superior de Gestão e Administração Pública, o bombeiro de Salto confessava que este terá sido o segundo pior incêndio da sua carreira. «Muito duro, muito duro», afirmava.
Aos bombeiros associaram-se praticamente todos os habitantes da aldeia, que com mangueiras, cisternas e «tudo o que houvesse à mão» tentaram, com sucesso, impedir que as chamas destruíssem habitações.
«Morreram animais, há vinhas destruídas, bouças arrasadas, mas felizmente as casas foram salvas», congratulava-se a dona de um café de Salamonde.
Ao volante do seu tractor, Adelino Pinto tinha estampado no rosto o cansaço de toda uma noite numa «luta desigual» contra as chamas, mas mesmo assim garantia que a próxima noite seria também para passar em claro.
«Vou passar toda a noite nisto, senão, com um qualquer reacendimento, o meu barracão vai ao ar», explicava.
O verde do monte que até aqui era o orgulho da gente de Salamonde transformou-se, quase de um momento para o outro, num intenso manto negro, abrindo uma ferida que vai custar a sarar no coração dos habitantes da aldeia.
«Foi medonho. Enquanto me lembrar disto, hei de ter sempre o coração aos saltos», balbuciava Cidália Mota.
fonte: TVI24