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Bombeiro diz que tinha ordens para conduzir as ambulâncias () |
Um voluntário dos Bombeiros de Riba de Ave, Famalicão, conduzia ambulâncias sem ter carta, uma “aventura” que apenas terminou quando seguia em marcha de emergência e teve um acidente, sendo então “apanhado” pela GNR, foi divulgado nesta quarta-feira.
Em carta enviada à Lusa, o bombeiro Joaquim Nunes, que diz ter sido entretanto despedido da corporação, garantiu que o comandante da corporação sabia que ele não tinha carta mas mesmo assim dava-lhe “ordens” para conduzir as viaturas dos bombeiros.
Contactado pela Lusa, o comandante, Manuel Antunes, disse que “obviamente não sabia de nada”, caso contrário “nunca o deixaria conduzir” qualquer viatura dos bombeiros.
“Acha que, como responsável operacional, ia pôr a minha cabeça no cepo? E se acontecesse um acidente em que morresse alguém, quem ia assumir a responsabilidade? Obviamente, eu não sabia de nada”, sublinhou.
O acidente de Joaquim Nunes registou-se a 30 de Dezembro, quando conduzia uma ambulância em marcha de emergência.
Chamada ao local, a GNR constatou que o bombeiro não tinha carta de condução, pelo que foi constituído arguido, estando a decorrer um processo no tribunal de Famalicão.
“Admito a minha culpa em conduzir a ambulância sem carta de condução, mas, para ganhar os 200 euros que ganhava, não podia recusar nenhum serviço nem ordem”, justificou Joaquim Nunes.
Garantiu ainda que sempre foi um bombeiro e funcionário “exemplar”, cumprindo horários e “chegando a trabalhar doze horas seguidas”.
Acrescentou que, apesar de ter a categoria de maqueiro, sempre obedeceu a todas as ordens e serviços, desde conduzir a ambulância até cortar a relva do jardim do quartel.
O comandante da corporação confirmou que, “quando era preciso”, Joaquim Nunes conduzia as viaturas dos bombeiros, sem no entanto conseguir especificar quando começaram as “corridas à margem da lei” daquele voluntário.
Disse ainda que mal soube que Joaquim Nunes não tinha carta o proibiu de conduzir, mas negou que o tivesse despedido.
“Ele é que se despediu, assinou um documento a despedir-se”, afirmou.
Joaquim Nunes alega que assinou aquele documento, a 26 de Fevereiro, sem ter noção do que estava a assinar, já que nem sequer o leu.
“Ainda hoje me questiono como fui exonerado sem ser aberto um inquérito e instaurado um processo disciplinar. A minha indignação é ainda maior por saber que outros casos graves aconteceram e nada foi feito sendo até as pessoas em causa protegidas, e os acontecimentos ocultados pelo comandante e pela direcção”, criticou.
Disse, a título de exemplo, que o agora chefe das equipas de intervenção permanente da corporação conduziu um veículo pesado sem estar habilitado para o efeito, e que o próprio comandante transportou numa só ambulância, para o Hospital de Riba de Ave, quatro feridos graves vítimas de explosão, “quando já vinham a caminho as viaturas médicas e o helicóptero do INEM”.
O comandante confirmou estes factos mas disse que “já estão devidamente esclarecidos e enterrados há muito”.
Joaquim Nunes apontou ainda o caso de um bombeiro de 1ª. classe e outros de 3ª. que “foram para o facebook enxovalhar um chefe, de tal forma que este se sentiu mal e teve de ir para o hospital”, e de um motorista que, numa transferência hospitalar, entrou em contramão na auto-estrada (A7).
“Nenhuma destas pessoas foi obrigada a assinar a exoneração, não existiu também qualquer processo disciplinar, nem sequer a abertura de qualquer inquérito”, criticou, para vincar a “injustiça” do seu despedimento.
por Lusa
fonte: Público