Furacão Gordon chega ao raiar da manhã, a soprar a 150 quilómetros/hora, com toda a protecção civil das ilhas São Miguel e Santa Maria mobilizada para o pior cenário. Eventuais estragos nos portos são a principal preocupação.
Ondas que podem atingir os 16 metros de altura e ventos a rondar os 150 quilómetros horários são esperados durante a madrugada desta segunda-feira nas ilhas de São Miguel e Santa Maria, nos Açores, onde a aproximação do furacão Gordon colocou em alerta máximo todos os serviços de protecção civil.
Neste domingo manhã, os habitantes daquelas duas ilhas do Grupo Central do arquipélago aguardavam serenos e descontraídos a chegada de uma das mais violentas intempéries que já assolaram a região.
De acordo com a agência Lusa, a praia das Milícias, em Ponta Delgada, encontrava-se repleta de banhistas. À tarde, no entanto, já ninguém procurava a água do mar, repartindo-se as atenções dos populares, que então enchiam as esplanadas, pela leitura dos jornais que falavam da aproximação do Gordon, furacão que então se deslocava a uma velocidade média de 35 quilómetros/hora e que no sábado se tornara mais ameaçador, passando para a categoria II na escala de Saffir-Simpson, a segunda mais grave numa escala de cinco pontos.
Na freguesia de São Roque, interpelada pela Lusa, Cristina Ponte lembrou que a construção da avenida marginal teve o condão de proteger a orla marítima e assim minimizar os estragos provocados pelas investidas do mar. O transporte marítimo e os eventuais estragos nas estruturas portuárias constituem, de resto, a maior preocupação da maior parte dos açorianos, que há três dias já haviam visto a empresa Atlânticoline, que faz a ligação entre as ilhas, anunciar o cancelamento de todas as viagens até amanhã.
As previsões meteorológicas do final da tarde deste domingo apontavam igualmente para que o furacão perdesse força no momento que chegasse às ilhas açorianas (esperava-se que também o Pico e a Terceira viessem a ser afectados). A hipótese de o território continental ser atingido estava colocada fora de questão.
Em São Miguel, todas as comunidades piscatórias optaram por retirar os barcos da água logo às primeiras horas do dia. Reforçaram-se portas e janelas, retiraram-se todos os objectos susceptíveis de serem arrastados pela ventania anunciada e limparam-se sistemas de drenagem. Nos campos, foram recolhidas as alfaias e consolidadas as cercas dos animais.
O Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores foi repetindo, ao longo de todo o dia, os pedidos para que toda a população se mantivesse calma e seguisse as recomendações de segurança entretanto divulgadas por todos os meios de comunicação social das ilhas.
A SATA, a principal companhia aérea a operar nos Açores, tinha prevista a realização de 40 voos para o arquipélago durante todo o domingo. Nenhuma destas viagens havia ainda sido cancelada a meio da tarde.
Antes já o presidente do Governo Regional, Carlos César, declarara à imprensa, no final de uma reunião realizada em Ponta Delgada, que haviam sido colocados em alerta máximo todos os serviços nas ilhas de São Miguel e Santa Maria. Tal significava que na primeira das ilhas estavam de prevenção 320 bombeiros e 374 funcionários de diversos públicos da administração regional, enquanto em Santa Maria estavam requisitados 40 bombeiros e mais 60 funcionários públicos. Por precaução, foram ainda mobilizados 60 técnicos de acção social.
O director regional da Ciência, Tecnologia e Comunicações, Paulo Menezes, foi entretanto nomeado coordenador de todos os serviços oficiais em Santa Maria. Nas declarações que fez à Lusa, este responsável afirmou, a meio da tarde, que já haviam sido sinalizadas as zonas tidas como mais críticas.
Depois de reunir com diversos responsáveis de secretarias regionais e com a Associação de Pescadores, com os comandantes da PSP e Polícia Marítima e com o presidente da Câmara de Vila do Porto, Paulo Menezes anunciou a colocação de mais de 20 equipamentos de salvamento em zonas estratégicas da ilha, sobretudo na Maia e em São Lourenço. Salientando que “a segurança das pessoas é a principal preocupação”, Menezes indicou ainda que a PSP tinha ordens para mandar retirar todas as viaturas dos locais de mais difícil acesso. O aeroporto local mantinha-se aberto durante a tarde.Há seis anos tudo não passou de um susto
O Gordon não é um desconhecido para os açorianos. Em 2006 passou pelo arquipélago, então na forma de tempestade tropical (a mesma forma que tinha até sábado e, provavelmente, a mesma que irá assumir ainda durante a manhã de hoje), e ainda deitou abaixo diversas árvores e arrancou telhas de muitas casas. Mas os piores cenários então avançados pelas autoridades não se confirmaram.
Este furacão deve o nome aos especialistas do centro de furacões de Miami, nos EUA. É ali que todos estes fenómenos atmosféricos são baptizados e foi ali que se estabeleceu que a mesma tempestade só pode readquirir um nome já utilizado decorridos seis anos entre as mesmas. Furacões que causem mortes, como por exemplo o Katrina, são definitivamente abolidos da lista.
Fonte: Público