A cena dramática desenrolou-se por volta das 2.30 horas da madrugada de segunda-feira, altura em que dois funcionários da Prosegur, destacados na Metro do Porto e em serviço de vigilância no tabuleiro superior da ponte Luís I, viram surgir uma mulher, ainda jovem, descalça e vestida com um pijama, trazendo ao colo dois bebés, um com um ano e outro com apenas um mês.
A cena insólita deixou logo os seguranças alerta e obrigou-os a agir quando se aperceberam de que a mulher estugou o passou e, abraçada às crianças, transpôs o gradeamento da ponte com a clara intenção de se atirar ao Douro. Um dos homens da Prosegur, Paulo Silva, correu na sua direção e, quando a imigrante já se balanceava para o vazio, conseguiu agarrá-la e aos dois meninos, puxando-os para zona segura.
"Ela desatou a gritar palavras impercetíveis enquanto eu tentava sossegá-la dizendo que era amigo e que se acalmasse. Já ajudado pelo meu colega colocámos os três junto à linha do Metro, no meio da ponte, e chamámos a PSP e o INEM", conta Paulo Silva ao JN, assegurando que a mulher não disse nada que explicasse o seu desespero.
"Ela só gritava de aflição. Antes, quando os vi aproximarem-se da ponte, reparei que ela olhava repetidamente para trás, como se fosse perseguida. Mas não havia ninguém. E o que me levou a correr ao seu encontro foi o facto de ela de repente cerrar com força os meninos contra si. Aí, instintivamente, percebi que se ia matar. Não me enganei pois ela subiu num ápice o gradeamento. Mais um segundo e eu não chegaria a tempo", garante, acrescentando não ter havido no seu ato qualquer tipo de heroicidade mas antes um sentimento de "fraternidade e obrigação de ajudar quem precisa de nós".
Já na presença da PSP e dos técnicos do INEM, a mulher, nascida em 1987 no Bangladesh, acabaria por se acalmar e contar que tencionava pôr termo à vida e levar consigo os filhos. Explicou que, momentos antes tinha sido agredida pelo marido, Hannan Repari, de 44 anos, um comerciante da mesma nacionalidade, estabelecido e residente na Rua Chã, a poucos metros da ponte. As autoridades deram crédito às suas declarações pois a mulher apresentava um ferimento na boca. O marido admite um empurrão.
Mãe e bebés foram conduzidos ao Hospital de S. João onde deram entrada por volta das três horas, ficando as crianças aos cuidados dos serviços de Pediatria. O ferimento da progenitora foi tratado e ela ficou em observação, com apoio dos serviços de Psiquiatria. O inquérito deverá prosseguir a cargo da PSP do Porto que tomou conta da ocorrência.
Fonte: JN