Debater “os diversos problemas relacionados com incêndios e tentar encontrar mais e novas formas de diminuir ou mesmo banir esta calamidade”, foi com estes objectivos em mente que o presidente da Junta de Freguesia de S. Simão, José Hilário, convocou uma reunião, na sequência dos incêndios que assolaram a freguesia a 13 e 14 de Agosto.
Realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho, a 18 de Agosto, a iniciativa juntou em torno da mesma mesa a presidente da Câmara Municipal de Nisa, Gabriela Tsukamoto, o comandante distrital operacional da Protecção Civil, Belo Costa, a comandante dos Bombeiros Voluntários de Nisa, Sílvia Félix, o responsável pelo Serviço Municipal de Protecção Civil de Nisa, José Agostinho, os presidentes das Juntas de Freguesia de Amieira do Tejo e Montalvão, respectivamente, Rogério Dias e António Belo e alguns habitantes da freguesia de S. Simão.
“Esta reunião é importante não só para debatermos o que se passou no Pé da Serra, mas também para que num futuro próximo possamos trabalhar de forma a evitar passar pelo mesmo e minorar os efeitos dos incêndios”, começou por esclarecer José Hilário, que destacou a importância que tiveram as charcas existentes na freguesia, ao permitirem um rápido abastecimento de água aos helicópteros envolvidos no combate ao incêndio.
Neste sentido, o autarca propôs que mais charcas e reservatórios de água fossem criados no concelho, sugerindo mesmo que o Município isente de licenças quem queira construir charcas e disponibilize maquinaria para o efeito, enquanto Rogério Dias, presidente da Junta de Freguesia de Amieira do Tejo, lembrou que a colocação de sinalética a indicar onde se encontram os reservatórios seria igualmente útil.
Já o comandante Belo Costa, responsável pela Protecção Civil a nível distrital, considerou que “a questão das charcas nem é um problema tão grave comparativamente a outros concelhos” e revelou que os “pontos de água em todo o distrito, tirando alguns novos que surgiram no último ano ou dois, estão todos identificados, cartografados e georreferenciados”, faltando apenas a aprovação dum regulamento nacional para definir a sinalética a ser colocada nesses locais.
Outra dificuldade com que se debateram os bombeiros é a falta de limpeza dos terrenos. Embora a legislação obrigue os proprietários a limpar os terrenos numa faixa de 50 metros à volta das edificações e numa faixa de 100 metros em torno das povoações inseridas ou confinadas por áreas florestais, estas medidas são muitas vezes descuradas.
No caso do incêndio do Pé da Serra, segundo foi revelado na reunião, só a intervenção dos moradores da freguesia impediu nalguns casos o fogo de chegar próximo das habitações, o que levou José Hilário a pedir que haja uma maior sensibilização junto das populações para a limpeza dos terrenos.
Admitindo ser extremamente difícil convencer as pessoas a procederem à limpeza, a presidente da Câmara Municipal de Nisa, Gabriela Tsukamoto, defendeu que a autarquia não pode intervir em propriedades privadas e “é das poucas que levantam autos contra os proprietários”, revelando que o problema é muitas vezes chegar a esses mesmos proprietários. Outro entrave é a elevada idade da população e a incapacidade de proceder à limpeza.
“Este concelho não pode ser acusado de não aplicar a coima. Há concelhos em que os autos levantados pela GNR não têm consequências, mas aqui não é o caso”, afirmou Belo Costa, sugerindo a criação de um grupo de trabalho para elaborar um Plano de Serviço Público do concelho, medida que permite “juntar os sapadores de todo o distrito durante um determinado período de tempo, com um objectivo”, que poderia passar por criar “um plano exequível que permita fazer esta limpeza nas povoações mais debilitadas em termos de média de idade”.
A não utilização dos kits de primeira intervenção no combate a incêndios que as Juntas de Freguesia possuem, semelhantes aos dos sapadores florestais, foi outra das questões debatidas na reunião. Disponibilizados mediante candidatura às freguesias em função da área florestal que possuem, foram entregues no distrito de Portalegre 32 kits “mas destes só andam a trabalhar cerca de 20% do total”, explicou Belo Costa.
No concelho de Nisa existem três kits – um pertence à Junta de Freguesia de Montalvão, um à de S. Simão e outro à Associação de Caçadores de Amieira do Tejo – que no entanto não estão sempre operacionais devido à falta de veículos, por parte destas entidades, que possam transportar os kits em exclusivo e em permanência durante todo o ano.
Segundo José Hilário, no caso de S. Simão, a Junta de Freguesia optou por entregar o kit ao clube de caçadores local, pagando as perfurações para instalar o equipamento na carrinha da colectividade, mas os caçadores resolveram voltar atrás na decisão e o autarca procura agora nova solução. No caso de Montalvão, o presidente António Belo revelou que o kit não está permanentemente instalado na carrinha da Junta pois esta é utilizada ao longo do ano para o transporte de monos.
Frisando que os kits “podem resolver o problema no ataque inicial porque estão no local”, Belo Costa revelou que a sua utilização já resolveu incêndios no distrito e apelou à procura de soluções. “O kit não evita a deslocação dos bombeiros, mas na fase inicial é extraordinário”, concluiu.
fonte: Jornal de Nisa