DOIS IRMÃOS (RS) - Foi um incêndio em 1996, que deixou duas crianças mortas, que motivou a pequena comunidade de Dois Irmãos, cidade de 29 mil habitantes na Região Metropolitana de Porto Alegre, a investir numa solução que não dependesse da falta de agilidade do estado.
- Aqui não tem chuva nem tem sol que nos impeça de atender uma ocorrência. Não podemos dizer com certeza, mas em 15 anos salvamos muitas vidas - diz, orgulhoso, o agente administrativo Paulo Cezar Gehrke, um dos 43 bombeiros voluntários da cidade.
O serviço começou logo depois da tragédia que abalou a cidade, tomando como base as brigadas de incêndio mantidas pelas empresas locais. A guarnição de bombeiros mais próxima de Dois Irmãos ficava em Novo Hamburgo, a 17 quilômetros dali. Um caminhão carregado com 4,5 mil litros de água demorava pelo menos 45 minutos para se deslocar até a cidade.
Durante quase oito anos, os voluntários de Dois Irmãos atuaram sozinhos, mas desde 2004 contam com o apoio de 11 bombeiros da Brigada Militar (a PM gaúcha) que fazem principalmente os plantões diurnos, já que a maioria dos 43 homens trabalha durante o dia. A escala prevê pelo menos dois voluntários em plantões das 19h às 7h, incluindo fins de semana.
- Às vezes alguém se afasta durante algum tempo devido a problemas familiares, é substituído, mas em geral acaba voltando. Nosso trabalho é apaixonante - relata o presidente da Associação dos Bombeiros Voluntários de Dois Irmãos, Cristiano Rodrigo da Silva.
Hoje o serviço tem um caminhão-tanque cedido pela prefeitura e mais três carros usados em resgate - além de uma ambulância. Todos os meses a associação recebe R$ 7 mil da prefeitura e também doações, não detalhadas, de empresas da região. O grupamento também atende cidades vizinhas sem bombeiros, como Morro Reuter e Santa Maria do Herval.
Outras 14 cidades do Rio Grande do Sul contam com voluntariado no combate a incêndios - em Picada Café, por exemplo, há cerca de 35 homens que se revezam sem qualquer apoio oficial. O serviço existe desde 2008. Segundo o comandante Vilson Koch, apenas em janeiro foram atendidas 102 ocorrências. A maioria, de acordo com ele, com vítimas de acidentes de trânsito - a cidade fica localizada às margens da BR-116.
Em todas as 15 cidades com bombeiros voluntários do estado, quem se candidata precisa passar por cursos de atendimento especializado, tanto no nível I (combate a incêndio) como no nível II (atendimento pré-hospitalar).
No Rio Grande do Sul, segundo o comando dos Bombeiros, há 403 cidades sem uma guarnição anti-incêndio - a informação oficial dá conta que 94 municípios dividem os cerca de 3,5 mil soldados lotados no combate ao fogo. O comandante-geral dos Bombeiros, coronel Guido Pedroso de Melo, reconhece que o efetivo é pequeno e insuficiente para as necessidades do estado. Mas contemporiza ao afirmar que as cidades menores não têm uma demanda tão urgente por bombeiros em função do número pequeno de ocorrências.
Voluntários versus militares
No vácuo deixado pela falta de bombeiros militares em 89% dos municípios brasileiros, cidadãos civis se organizam em busca de uma solução prática. Predominantes em países da Europa e nos Estados Unidos - em território americano são 756 mil, mais que o dobro do efetivo profissional -, os bombeiros voluntários são geralmente bombeiros civis ou cidadãos treinados, que atuam tanto em municípios afastados quanto em grandes cidades. No Brasil, esse tipo de organização ainda é pouco conhecido, e predomina nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, onde nasceu, em 1892, o primeiro corpo de bombeiros voluntários brasileiro, em Joinville - quase tão antigo quanto a própria instituição militar, que é de 1856.
Os voluntários não contam com uma regulação especial. Criados a partir das necessidades identificadas pelos próprios cidadãos, eles normalmente têm cursos e estatutos independentes. Sua atuação pode ir desde o combate a incêndios até o resgate de vítimas em grandes tragédias. Mas, apesar de serem considerados um apoio importante para a resposta imediata a emergências, especialistas alertam que os voluntários não podem ser vistos como substitutos da corporação militar.
- Os militares são responsáveis por fiscalizar os voluntários, mas acaba havendo uma disputa entre as duas organizações. A meu ver, deveria existir uma unidade dos Bombeiros em cada município, e os voluntários poderiam complementar essa estrutura - explica o conselheiro legislativo da Câmara dos Deputados Claudionor Rocha, autor do estudo "A necessidade de incentivo para os bombeiros voluntários".
Handerson Alves, comandante-chefe do Corpo de Bombeiros Voluntários de Mariana (MG) e presidente da Federação Brasileira do Bombeiro Civil (Febrabom), explica que muitas vezes o voluntário acaba atuando sozinho. Sem uma unidade do Corpo de Bombeiros e com um efetivo considerado insuficiente no destacamento da vizinha Ouro Preto, são os 32 voluntários de Mariana que atendem a maioria das emergências de seus 54 mil cidadãos.
- Os voluntários vêm fazendo um trabalho de prevenção que seria de responsabilidade do estado - atenta. (Barbara Marcolini)
- Aqui não tem chuva nem tem sol que nos impeça de atender uma ocorrência. Não podemos dizer com certeza, mas em 15 anos salvamos muitas vidas - diz, orgulhoso, o agente administrativo Paulo Cezar Gehrke, um dos 43 bombeiros voluntários da cidade.
O serviço começou logo depois da tragédia que abalou a cidade, tomando como base as brigadas de incêndio mantidas pelas empresas locais. A guarnição de bombeiros mais próxima de Dois Irmãos ficava em Novo Hamburgo, a 17 quilômetros dali. Um caminhão carregado com 4,5 mil litros de água demorava pelo menos 45 minutos para se deslocar até a cidade.
Durante quase oito anos, os voluntários de Dois Irmãos atuaram sozinhos, mas desde 2004 contam com o apoio de 11 bombeiros da Brigada Militar (a PM gaúcha) que fazem principalmente os plantões diurnos, já que a maioria dos 43 homens trabalha durante o dia. A escala prevê pelo menos dois voluntários em plantões das 19h às 7h, incluindo fins de semana.
- Às vezes alguém se afasta durante algum tempo devido a problemas familiares, é substituído, mas em geral acaba voltando. Nosso trabalho é apaixonante - relata o presidente da Associação dos Bombeiros Voluntários de Dois Irmãos, Cristiano Rodrigo da Silva.
Hoje o serviço tem um caminhão-tanque cedido pela prefeitura e mais três carros usados em resgate - além de uma ambulância. Todos os meses a associação recebe R$ 7 mil da prefeitura e também doações, não detalhadas, de empresas da região. O grupamento também atende cidades vizinhas sem bombeiros, como Morro Reuter e Santa Maria do Herval.
Outras 14 cidades do Rio Grande do Sul contam com voluntariado no combate a incêndios - em Picada Café, por exemplo, há cerca de 35 homens que se revezam sem qualquer apoio oficial. O serviço existe desde 2008. Segundo o comandante Vilson Koch, apenas em janeiro foram atendidas 102 ocorrências. A maioria, de acordo com ele, com vítimas de acidentes de trânsito - a cidade fica localizada às margens da BR-116.
Em todas as 15 cidades com bombeiros voluntários do estado, quem se candidata precisa passar por cursos de atendimento especializado, tanto no nível I (combate a incêndio) como no nível II (atendimento pré-hospitalar).
No Rio Grande do Sul, segundo o comando dos Bombeiros, há 403 cidades sem uma guarnição anti-incêndio - a informação oficial dá conta que 94 municípios dividem os cerca de 3,5 mil soldados lotados no combate ao fogo. O comandante-geral dos Bombeiros, coronel Guido Pedroso de Melo, reconhece que o efetivo é pequeno e insuficiente para as necessidades do estado. Mas contemporiza ao afirmar que as cidades menores não têm uma demanda tão urgente por bombeiros em função do número pequeno de ocorrências.
Voluntários versus militares
No vácuo deixado pela falta de bombeiros militares em 89% dos municípios brasileiros, cidadãos civis se organizam em busca de uma solução prática. Predominantes em países da Europa e nos Estados Unidos - em território americano são 756 mil, mais que o dobro do efetivo profissional -, os bombeiros voluntários são geralmente bombeiros civis ou cidadãos treinados, que atuam tanto em municípios afastados quanto em grandes cidades. No Brasil, esse tipo de organização ainda é pouco conhecido, e predomina nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, onde nasceu, em 1892, o primeiro corpo de bombeiros voluntários brasileiro, em Joinville - quase tão antigo quanto a própria instituição militar, que é de 1856.
Os voluntários não contam com uma regulação especial. Criados a partir das necessidades identificadas pelos próprios cidadãos, eles normalmente têm cursos e estatutos independentes. Sua atuação pode ir desde o combate a incêndios até o resgate de vítimas em grandes tragédias. Mas, apesar de serem considerados um apoio importante para a resposta imediata a emergências, especialistas alertam que os voluntários não podem ser vistos como substitutos da corporação militar.
- Os militares são responsáveis por fiscalizar os voluntários, mas acaba havendo uma disputa entre as duas organizações. A meu ver, deveria existir uma unidade dos Bombeiros em cada município, e os voluntários poderiam complementar essa estrutura - explica o conselheiro legislativo da Câmara dos Deputados Claudionor Rocha, autor do estudo "A necessidade de incentivo para os bombeiros voluntários".
Handerson Alves, comandante-chefe do Corpo de Bombeiros Voluntários de Mariana (MG) e presidente da Federação Brasileira do Bombeiro Civil (Febrabom), explica que muitas vezes o voluntário acaba atuando sozinho. Sem uma unidade do Corpo de Bombeiros e com um efetivo considerado insuficiente no destacamento da vizinha Ouro Preto, são os 32 voluntários de Mariana que atendem a maioria das emergências de seus 54 mil cidadãos.
- Os voluntários vêm fazendo um trabalho de prevenção que seria de responsabilidade do estado - atenta. (Barbara Marcolini)
por yahoo.com