Profissionais de resgate sofrem até hoje com doenças de pulmão por causa da fumaça tóxica das explosões
Rio - Das 2.753 pessoas que morreram em Nova York por causa dos ataques de 11 de setembro de 2001, 403 eram bombeiros, policiais ou faziam parte de equipes de resgate. Esses números já dão uma boa ideia do heroísmo dos integrantes dessas corporações. Mas não revelam totalmente o drama desses profissionais no dia da tragédia, nem o calvário que muitos deles enfrentam até hoje por causa dos ataques e problemas de saúde que se instalaram em seguida.
As colunas de fumaça vistas nas imagens do 11 de Setembro, logo após o colapso das Torres Gêmeas, tinham componentes como amianto, chumbo e gases tóxicos. Pelo menos dois sobreviventes das torres já morreram, na última década, de sarcoidose — doença inflamatória que lhes afetou os pulmões por causa da inalação desses gases.
Ao todo, estima-se que mais de 60 mil pessoas estejam inscritas em programas de saúde que cuidam de enfermidades ligadas ao 11 de Setembro. Por permanecerem trabalhando durante 8 meses no local dos ataques, bombeiros estão entre as principais vítimas.

“Na semana inicial, não tínhamos o equipamento de segurança ideal. Além disso, o governo afirmou que era seguro trabalhar com o ar naquelas condições. Contratamos especialistas e eles afirmaram que o ar estava entre os mais tóxicos que eles já haviam testado”, lembra o ex-bombeiro Dan Daly.
Entrevista com Dan Daly, capitão bombeiro aposentado
Conhecido como chefe Daly, o ex-capitão Dan participou, por 6 meses, da luta para achar sobreviventes e corpos nas torres. Em entrevista a ODIA, ele diz que tirou experiências positivas da tragédia.
1. Qual era o cenário nas torres?
— Parecia outro planeta. O céu estava encoberto e vi gente correndo coberta de poeira e de sangue.
2. O que sua equipe teve que fazer assim que chegou lá?
— Tínhamos que procurar sobreviventes e corpos. Tínhamos que recolher pedaços de corpos, colocá-los num balde. Isso foi frustrante: estamos acostumados a apagar incêndios e socorrer sobreviventes.
3. Quais foram as histórias mais impressionantes que ouviu?
— Bombeiros foram atingidos pelos corpos das pessoas que se atiraram e o padre Judge, o capelão dos bombeiros, morreu ao dar Extrema-Unção numa torre. Ele tirou o capacete e foi atingido por um destroço. Eu conhecia 50 bombeiros mortos lá, incluindo meu melhor amigo.
4. Você viaja o mundo atualmente falando sobre como tirar lições positivas do 11/09. O que o faz pensar assim??
— Pouco depois do ataque, voluntários já começaram com o que eu costumo chamar de ‘Cidade dos Anjos’. Eram tendas que ofereciam bebida, comida e até massagem para equipes de resgate. Isso mostra que o 11 de Setembro poderia lembrar não somente o que as pessoas eram capazes de destruir, mas o que poderiam fazer de bom.